sábado, 20 de março de 2010

A IGREJA QUE É, PORQUE SAIU; A IGREJA ESTANDO E A IGREJA PARTINDO


I – A IGREJA QUE É, PORQUE SAIU (GN.12.1)
1. A palavra igreja tem características notáveis para que possamos entender o que ela mesma é. Igreja e a junção de uma preposição e um verbo: “ek”, (preposição que indica origem – o ponto de onde uma ação ou movimento procede), e “kaleo”, (verbo - chamado, convocado), daí “EKKLÉSIA”.
2. Igreja, portanto, trata-se do grupo de pessoas que foram chamadas de um ponto para o outro. O ponto inicial é a própria estadia no mundo, participantes dele como um sistema de coisas.
3. O nosso texto escolhido para representar a saída não é um pretexto, mas sim, uma figura do que representaria a nossa atitude para a formação da própria igreja.
4. Deus disse a Abrão: “Ande para fora (sair) do meio da tua parentela”. Ele foi convocado a sair de onde estava; sair da terra, sair do meio dos parentes e sair da casa do pai (“καὶ εἶπεν κύριος τῷ Aβραμ ἔξελθε ἐκ τῆς γῆς σου καὶ ἐκ τῆς συγγενείας σου καὶ ἐκ τοῦ οἴκου τοῦ πατρός σου εἰς τὴν γῆν ἣν ἄν σοι δείξω”) (Gn 12.1 LXX).
5. Tudo o que Abrão foi intimado a deixar para trás, representava abandonar o passado para estabelecer-se dentro dos propósitos que Deus tinha para ele. Sem deixar o passado não é possível estabelecer o futuro.
6. Como Abrão saiu, os que querem participar da igreja devem sair (ek) quando forem chamados (kletos). Não é possível ser algo novo sem o abandono do que é velho. Quando alguém resiste em deixar as coisas velhas, o resultado é que não consegue viver plenamente o novo.
7. Atendendo ao chamado (kletos) de Deus, Abrão se colocaria na posição de abençoador de nações. Da mesma forma os crentes, ao saírem do mundo, participando da formação da igreja (reunião de pessoas), passam a ser bênção para muitos outros.
8. Deus propõe a Abrão a possibilidade de ser abençoado e também de ser bênção. Mas, para que isso fosse real, Abrão devia sair (ek), deixar cair as amarras do que o afastava dos propósitos de Deus.
9. Como Abrão, que é Abraão, os da igreja deixaram o mundo para ser bênção para os outros, para as nações, para os vizinhos e os amigos (e também para os não amigos).

II – A IGREJA ESTANDO, MAS NÃO SENDO (JOÃO 17.14-18).
1. Se de um lado, foi preciso sair para ser; de outro, é necessário ficar para fazer. Não se trata de um contrassenso, um disparate, um absurdo, mas de uma realidade. Vimos Abrão saindo de algo que representava o velho mundo.
2. Veremos a proposta de Jesus para os discípulos, que é também para a igreja, é justamente no fato deles continuarem no mundo. E é assim que acontece: a igreja foi tirada do mundo, mas ao mesmo tempo, precisa ficar no mundo.
3. A igreja só tem sentido como igreja pelo fato de continuar no mundo. Mesmo que igreja signifique ‘o grupo dos chamados para fora’, ainda é aqui que ela presta o seu serviço; ainda é aqui que ela faz as coisas acontecerem.
4. Jesus não deixou os discípulos confusos com a questão do ‘estar, mas não ser’. Da mesma forma, a igreja não fica confusa com este ‘estar, mas não ser’. A igreja continua aqui, pois existem coisas ainda por fazer. Não foi plano de Deus fazer uma ‘parousia individual’, imediata, instantânea, do tipo: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
5. A igreja ainda está aqui porque faz parte de um processo, de um propósito que Deus tem para o mundo. Disse Jesus: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (v.17) (Comparar com Mateus 28.19 e Atos 1.8).
6. Todo o processo de salvação do mundo tem início no próprio Deus (João 3.16); tem o seu cumprimento em Jesus, através da morte (Lucas 23.46) e da sua ressurreição (Lc 24.46,47), e tem continuidade no ministério que é entregue à igreja (eu e você) ("Para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais" Efésios 3:10).
7. Jesus na sua oração intercede pelos discípulos e pelos demais que participariam da igreja (v.20). Jesus tinha um desejo que só poderia ser atendido pelo Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (v.17).
8. Os santificados são os mesmos que foram chamados para fora. Termos sido chamados para fora, implica em dizer que nada de lá trouxemos. Quando Jesus chamou Lázaro para fora do túmulo, deveria ser desprendido de tudo que lembrasse que já estivera morto; ele não guardou com carinho as aturas que o envolveram.
9. Quero dizer com muita tristeza! Ainda tem muito crente vivendo atado ao velho túmulo. Há muitos crentes ainda destilando o líquido mortuário, o liquame o necrochorume, quando dizem em relação aos seus irmãos: ‘não gosto do irmão tal, se ele for eu não vou, diga quem vai para ver se vou, etc.
10. Precisamos entender que estamos no mundo, mas não somos do mundo (v.16).

III – A IGREJA DOS QUE SAÍRAM, FICARAM, MAS PARTIRÃO.
1. Como fez Abrão, que saiu do mundo da sua época, a igreja também fez o mesmo. A igreja continua ainda por um pouco de tempo no mundo, e deve cumprir fielmente a sua obrigação: dizer ao mundo que só Jesus salva.
2. Estando ainda no mundo, a igreja podia sentir-se solitária, abandonada, desprotegida e sem saber para onde ir. Para que ela não sofresse isso. Pois o seu sofrimento seria outro, Jesus disse aos discípulos que não turbassem os seus corações (João 14.1).
3. Jesus, que por muitas vezes esteve só, e entendendo o quanto é dramático o estar só, disse que a sua ausência seria por pouco tempo: “Virei para vós e vos levarei para mim mesmo”; “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14.3,18). Parte da promessa se cumpriu com a vinda do Espírito Santo.
4. A igreja, que não veio para ficar, espera ansiosamente que se cumpra o tempo da sua peregrinação. A igreja espera com alegria ‘ansiosa’ a vinda do seu Senhor. Assim como a noiva aguarda a chegada do seu amado, a igreja espera que venha o noivo.
5. Entretanto, a igreja-noiva não deve aguardar o noivo de qualquer jeito (2 Co 11.2). A igreja-noiva espera o amado com vestes puras e se apresenta bem adornada (Ap. 19.7,8).
6. Também é preciso dizer, que a igreja-noiva não deve se perder, atrapalhar-se com o tempo; ela deve apressar-se para estar no tempo exato da chegada do noivo. Quando chegar o noivo não haverá mais tempo para buscar os adornos, as águas de cheiro, o embelezamento da face (É prática corrente a noiva atrasar-se; não sei se é influência das cinco virgens loucas - Mt. 25.11-13).
7. A igreja, que é a noiva, saiu do mundo; continua nele; mas espera, pronta, ativa e vigilante a hora de deixá-lo. E ela vai sem sentir saudades do que deixou para trás. Não há por que lembrarmos o que deixamos para trás.
8. A igreja-noiva que vai com o seu amado Cristo é multirracial, é de todas as línguas. Ela é não-denominacional. Ela é igreja, ela é corpo. Por ser corpo há de unir-se ao seu amado, há de unir-se a Cristo, a cabeça da igreja.
9. A igreja que saiu, ficou, partirá. É possível que alguém da igreja deixe de ir? É possível que alguém da igreja fique? Não, não é possível. Ficarão sim, aqueles que andaram com a igreja, que até são achados no seu rol de membros, mas que de verdade não fizeram parte da igreja. A igreja não sofre mutilação; o corpo todo subirá para encontra-se com a cabeça da igreja, Cristo.

CONCLUSÃO

A igreja saiu do mundo porque atendeu o chamado para sair.
A igreja ainda está no mundo porque faz parte do único projeto de salvação da humanidade.
A igreja é o grupo daqueles que deixaram o inferno para seguir rumo ao céu.
A igreja é o grupo dos salvos que espera com alegria ‘ansiosa’ a chegada dAquele que a resgatou para si mesmo: Jesus Cristo.


Pr. Eli da Rocha Silva
Igreja Batista em Jd. Helena 21/03/2010

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